RS NEGRO – CARTOGRAFIAS SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
1- Onde Francisco residia? Como onde trabalhava Francisco? Qual proposta os farrapos fizeram a Francisco Francisco residia em Piratini e, como muitos outros escravos das redondezas, serviu na guerra como soldado, aliás, lanceiro. Nada de novo transcorreria na vida de Francisco se não fosse a guerra a afetar o dia-a-dia da província sulina há alguns anos. Enquanto as tropas de Antonio de Souza Netto e do Major Teixeira Nunes se aproximavam da localidade, rumo a mais uma das tantas batalhas ocorridas no decênio belicoso e à procura de pessoas dispostas (ou não!) a lutarem nas fileiras rebeldes, Francisco trabalhava nas lavouras de seu amo, proprietário de algumas terras na cidade de Canguçu. Foi assim que a história de Francisco, da guerra farrapa e dos lanceiros negros se cruzaram gerando uma rica história que apresentaremos aqui alguns fragmentos,
2-Alistado, como Francisco conseguiu a liberdade? Alistado, Francisco passou a fazer parte de um dos corpos de
lanceiros e em uma das incursões dos mesmos a Montevidéu o oficial
responsável pelas tropas dispensou todos os negros por não possuir
dinheiro para pagar seus soldos. Em função disso, disse a todos os
escravos que “estavam livres”, tendo os mesmos recebidos “papéis”
individuais.
3- Em qual sentido assistimos um processo de releitura da história
do Rio Grande do Sul? A trajetória do lanceiro Francisco talvez seja uma daquelas
histórias que de tanto procurarmos apareça para nos premiar pela
insistência e para que possamos recordar sua fugaz trajetória. Ilustra
também os esforços presente hoje em alguns historiadores: o de retirar
da invisibilidade um grupo significativo de indivíduos que fizeram
(e fazem!) parte da formação sócio-histórico-cultural do Rio Grande
do Sul:A Revolução Farroupilha foi possivelmente o assunto mais
trabalhado pela historiografia gaúcha, entretanto, a relevância e a
dimensão da participação do negro neste conflito foram parcamente
analisadas. Tal temática tem sido apenas tangencialmente tocada por
historiadores e os trabalhos que existem contemplando a união da
temática escravidão com o momento da guerra farrapa já podem ser
considerados clássicos.
4- O que informava o relato do imigrante alemão João Daniel
Hillebrand? O relato de João Daniel Hillebrand,
imigrante alemão e Diretor Geral da Colônia de São Leopoldo, é
revelador da composição étnica da tropa que tomou Porto Alegre no
dia 20/09/1835. Em depoimento da época, informava aos seus
“patrícios alemães que uma partida, pela maior parte composto de
negros e índios” estaria ameaçando as autoridades da Província. Afirmou ainda que a “força dos revoltosos
que se apresentaram próximo à Azenha e que depois entraram na
Cidade de Porto Alegre, não excedia de 80 a 90 pessoas, índios, negros
e mulatos, a maior parte armadas de lanças”.
Da mesma forma, em abril de 1836, por ocasião da primeira
invasão das tropas rebeldes a Pelotas – a maior cidade charqueadora
da época –, tem-se a informação de que cerca de 400 a 500 escravos
tenham seguido as forças rebeldes. Meses depois, em setembro de
1836, surge o primeiro corpo de lanceiros, provavelmente composto
destes cativos. Assim, é possível que o decreto tenha sido uma
conseqüência do sucesso e eficiência empreendida por este primeiro
grupo de negros armados.
5-Como eram recrutados a maioria dos escravos? De quais formas se dava a arregimentação?
A arregimentação se dava de várias formas: através da solicitação de
escravos a senhores simpáticos à causa farrapa, pela captura forçada
de negros pertencentes a proprietários leais ao Império e via sedução
com a promessa de alforria, o que acabava por ocasionar o
engajamento voluntário de cativos que fugiam de seus senhores,
vislumbrando no exército farroupilha uma possibilidade de liberdade.
Ou, ainda, poderiam adentrar as tropas em substituição de indivíduo
livre convocado, o qual podia oferecer um escravo com carta de
alforria para lutar em seu lugar.
6- Copie o depoimento do italiano Giuseppe Garibaldi.
O conhecido depoimento do italiano Giuseppe Garibaldi, porém, merece destaque:
Este corpo de lanceiros, composto em geral de negros livres da
república, e escolhidos entre os melhores domadores de cavalos
da província, tinha unicamente os oficiais superiores brancos, e
nunca o inimigo havia visto as costas destes filhos da liberdade.
As suas lanças, que eram maiores do que as comuns, os seus rostos pretos como o azeviche, os membros robustos e a sua
disciplina exemplar faziam deles o terror dos inimigos (DUMAS,
1947, p. 30).
7- Explique sobre o documento conhecido por “Carta de Porongos”. O que revelaria seu conteúdo?
Na madrugada de 14/11/1844, tropas imperiais comandadas pelo
Coronel Francisco Pedro de Abreu – conhecido por Moringue –
atacaram o exército farrapo, em especial o Corpo de Lanceiros Negros
liderado pelo General Davi Canabarro. Tal evento ocorreu nas
proximidades do Cerro de Porongos, em Pinheiro Machado, na época
distrito de Piratini, na metade sul do estado. Cerca de 100 soldados
farroupilhas que estavam no local foram mortos e outros tantos foram
feitos prisioneiros. Eram, em maioria, escravos que lutavam para obter
a liberdade.
Alguns anos depois, a divulgação de uma correspondência
atribuída a este conflito deu início a uma polêmica sobre o seu
caráter. Tal documento, que ficou conhecido como “Carta de
Porongos”, teria sido enviado pelo Barão de Caxias (Presidente da
Província do Rio Grande do Sul e Comandante-em-Chefe do Exército
imperial na região) a Moringue. O seu conteúdo revelaria a existência
de um acordo prévio entre o Barão e as lideranças farroupilhas,
visando facilitar a ofensiva imperial contra os lanceiros acampados
em Porongos e acabar com o conflito que se arrastava há quase
uma década. Em determinado trecho da correspondência, Caxias
informaria a Francisco Pedro o local, dia e horário para o ataque,
garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelas
suas lideranças.
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